Sempre ouvimos falar da saudade que dói, que machuca, que fere, mas e a saudade que une, que ampara, que perfuma a vida e nos faz crescer? E o que dizer da sensação gostosa de saber que alguém existe e que em algum lugar espera por nós, nos aceitando como somos, e que, apesar de tudo e de todos, nos quer bem? Se existe saudade doída, e com certeza existe, há também a saudade gostosa, que liberta a alma, que alimenta a vida, dando-lhe significado especial.
Saber que há alguém que sente o mesmo, então, é uma reciprocidade maravilhosa, que alimenta a alma. Embora alguns dizem que tudo isso não passa de masoquismo, porque sofremos muito com a saudade, seria melhor que não tivéssemos, prefiro acreditar que há Deus também na saudade bem vivida, na doce saudade.
Há também a presença divina na suavidade das lembranças do sorriso, do cheiro e da presença do outro. O outro vive em nós mais vivo, como se estivesse perto, pois na saudade não julgamento, somos até mais dóceis, compreendemos até as dificuldades alheias.
Como se não bastasse, a saudade nos faz mais sensíveis e ainda nos transforma em seres humanos melhores. Talvez por isso, o senhor da vida tenha saudade contínua de nós, pois jamais e sempre cativa de forma doce nosso dia a dia e o carinho por seus filhos, ainda que ele não se lembre muito dele.
Saudade doce é assim: repleta de luz, de lembranças, de gratidão por ter alguém em nossa vida que valha a pena sentir falta. E mesmo quando não encontramos o mesmo sentimento no outro, bem-aventurados, os que têm a oportunidade de sentir saudade e sonhar com o reencontro. Triste de quem não tem ninguém para sentir falta, que não tem ninguém para lembrar e sonhar em reencontrá-lo. Sob esse aspecto, amo sentir a doce saudade que me traz mais vida e me mostra como as pessoas podem ser especiais.
Isso tudo sem mencionar saudade de momentos mágicos, de instantes em que nos superamos e descobrimos um “eu” mais capaz e mais forte, transcendendo nossos mais profundos limites. É bom ter do que ter saudade.
Essas lembranças nos alimentam sempre nos momentos difíceis. Portanto, ao invés de maldizer a saudade, pense antes na qualidade que cada lembrança possui e talvez descubra que possa estar mais doce que imaginas.
É preciso olhar para trás e para frene e compreender que no fundo o tempo se funde em um só, sempre no instante presente, no aqui e agora.