A perfeição que tanto procuramos já habita em nós, ainda que em estado germinativo. Através das linhadas do tempo e das dificuldades que a existência nos propicia, somos convidados a refletir acerca de nós mesmos, de nosso modo de ver a vida, da nossa intenção com o mundo de como lidamos com nossas mais arraigadas tendências.
Como nos ensina a sabedoria da vida, somos herdeiros de nós mesmos, únicos responsáveis por todos os frutos que, atualmente estamos colhendo. Somos semeadores e semeamos tudo a todo instante, utilizando pensamentos, palavras e ações. Como nos ensinava Mahatma Ghandi, caso não haja coerência entre o que pensamos, dizemos e fizemos, jamais encontraremos o maior sucesso da vida, que seguramente, segundo os prismas mais excelsos, é o encontrar a paz, sintonia de nosso intimo.
Afinal, será possível acreditar que um estudante que fale que vai passar em um concurso, mas em seu íntimo não crê em si, consiga realizar seu intento? Ou uma mãe, que, desesperada pela enfermidade do filho, o entrega a Deus em suas preces, mas ainda assim não pensa ser possível que seu pedido se concretize, vá ter sucesso em seu intento? É preciso que exercitemos a coerência em nosso dia-a-dia, em tudo que pesamos, dizemos e fazemos. Caso contrário, estaremos sendo hipócritas, pois agimos de formas diferentes dentro de uma mesma situação. É, assim procedendo, como esperar do tempo outro resultado que não seja o desgosto, as desditas e a tristeza?
São adversidades, decepções, injurias ingratidões e incertezas que, não raro, encontraremos em nosso caminho. Às vezes em momentos de desespero, chegamos a questionar a certeza da justiça do Pai, por permitir que tão intensas tempestades se abatam sobre nós. Entretanto, a mente prudente, que reflete e busca na humildade a iluminação interior, reconhece em si a sementeira inconseqüente de outrora como única responsável pela colheita infrutífera do hoje. E, a partir de então, passa a buscar a reeducação dos valores que há muito residem em seu foro pessoal, de conduta, de seu modo de encarar a realidade. Descobre que não há dificuldades, mas oportunidades; que ofensas não existem, mas incompreensão de nossa parte em relação a quem ofende, por ainda nos sentirmos ofendidos; e que melhor que criticar é educar.
Quando o sol da serenidade nos alcança a intimidade, passamos a identificar, naquele que demonstra ódio, um irmão com amor adormecido. Percebemos na noite escura a precursora do dia claro. Vislumbramos no tempo não inimigo a nos testar a impaciência, mas um amigo a nos brindar com a tolerância. Ao vermos Jesus em todos os lugares, já não mais blasfememos, pois compreenderemos. Já não mais desesperaremos, pois teremos fé. E de repente, ao nos depararmos com a face de nossa renovada consciência, descobrimos que renascemos sem morrer, que temos um novo trabalho sem mudar de emprego. Sentimos que encontramos nova família sem trocar de familiares, que o dia chuvoso também é belo e que lágrimas são o desabafo da alma, não o grito da revolta.
E esses florescer espiritual só ocorre após muito trabalho, pois, como a ciência nos ensina a natureza não dá saltos. O labor é árduo, as lutas as lutas incessantes, o familiar desestruturado, a resignação firme a enfermidade renovadora, o bom combate e o sofrimento companheiro de cada dia são como mãos abençoadas de experiente oleiro a moldar-nos a consciência viciada na ilusão do materialismo vulgar.
Por isso, reclamar da situação na qual nos encontramos de nada adianta. Precisamos exercitar o bom senso e aprender a valorizar as chances de reestruturação moral que temos a nosso dispor, realizando minuciosa cirurgia interior, culminando com uma profunda reforma intima.